O Mangled Extremity Severity Score (MESS) nasceu para responder à dúvida clássica do trauma grave de membro:
vale a pena tentar salvar esse membro ou é mais seguro indicar amputação primária?
Este conteúdo está dividido em duas partes:
(1) Finalidade e (2) Como o escore foi criado.
1. Finalidade do escore de MESS
O MESS foi descrito em 1990 por Johansen et al., no Harborview Medical Center (Seattle), como um escore
simples e objetivo para:
- Estimar a viabilidade de um membro inferior gravemente traumatizado (fratura exposta + lesão vascular).
- Ajudar na decisão precoce entre salvamento vs amputação primária, reduzindo:
- tentativas prolongadas e sem sucesso de salvamento,
- número de cirurgias,
- tempo de internação e morbidade associada.
(PubMed+2)
O escore combina quatro dimensões clínicas, avaliáveis nas primeiras horas de atendimento:
- Gravidade do dano ósseo / partes moles (energia do trauma)
- Isquemia do membro (grau de perfusão e tempo de isquemia)
- Choque sistêmico (instabilidade hemodinâmica)
- Idade do paciente (PubMed+1)
Dados da publicação original
- Série retrospectiva (25 vítimas / 26 membros):
- membros salvos → MESS ≈ 4,9
- amputados → MESS ≈ 9,1 (p < 0,01). (PubMed)
- Coorte prospectiva subsequente (26 membros):
- salvos → MESS ≈ 4,0
- amputados → MESS ≈ 8,8 (p < 0,01). (PubMed+1)
Conclusão: em ambos os estudos, MESS ≥ 7 previu amputação com 100% de valor preditivo positivo, levando à recomendação de:
- MESS < 7 → tentar salvamento do membro
- MESS ≥ 7 → considerar amputação primária (PubMed+1)
Portanto: o MESS atua como ferramenta de apoio à decisão clínica e não como substituto da avaliação cirúrgica especializada.
2. Como o escore de MESS foi criado
2.1. Contexto histórico
Na década de 1980, o avanço de técnicas microcirúrgicas, revascularização e fixação externa aumentou as chances
de salvamento de membros, porém também:
- prolongou hospitalizações,
- aumentou o número de reoperações,
- expos os pacientes a tentativas pouco realistas de salvamento.
Faltavam critérios objetivos para discernir, logo na admissão, quais membros eram de fato insalváveis.
(Western Trauma Association+1)
Foi neste cenário que Johansen et al. propuseram o MESS.
2.2. Estudo de derivação
No trabalho “Objective criteria accurately predict amputation following lower extremity trauma” (J Trauma, 1990),
os autores: (PubMed+1)
- Revisaram retrospectivamente 25 pacientes com 26 traumas graves de membro inferior.
- Compararam os casos que:
- foram salvos
- e os que evoluíram para amputação.
A análise identificou quatro variáveis-chave com maior poder discriminatório:
- Lesão óssea / partes moles – classificada de baixa até altíssima energia
- Wheeless’ Textbook of Orthopaedics
- Isquemia do membro
- leve (pulso diminuído) até ausência total de perfusão
- tempo de isquemia quente > 6h dobra a pontuação (PubMed+1)
- Choque sistêmico – avalia instabilidade hemodinâmica (PubMed)
- Idade do paciente – pior prognóstico em idosos (PubMed+1)
Cada variável recebeu pontuação de 0 a 2–4 pontos, totalizando até ≥ 14 pontos.
(Wheeless’ Textbook of Orthopaedics+1)
2.3. Validação prospectiva
Após o estudo retrospectivo, o escore foi aplicado prospectivamente em outros 26 pacientes com lesão vascular grave de membro inferior. (PubMed+1)
- Novamente houve diferença entre os grupos:
- membros salvos → MESS ≈ 4,0
- amputados → MESS ≈ 8,8
- O valor de corte MESS ≥ 7 apresentou 100% de acurácia preditiva para amputação.
O estudo de Helfet et al. (1990) confirmou esses dados e consolidou o MESS como ferramenta clínica de apoio à decisão cirúrgica em traumas vasculares graves. (PubMed+1)
3. Evolução e críticas na literatura
Nas décadas seguintes, o MESS foi:
Em resumo:
- Finalidade: estimar, de forma precoce e objetiva, a necessidade de amputação em traumas graves de membro inferior.
- Criação: derivado em 1990 com base na análise de 25 pacientes e validado prospectivamente, demonstrando que MESS ≥ 7 prediz amputação com alta acurácia.